PCO: “Much Ado About Nothing”

Como disse o Editorial de Rafael Braga, publicado no post do dia 02.07.09, “a fantasia que gira em torno da maior aberração da história do micronacionalismo em língua portuguesa é completamente baseada em mentiras, em fatos absolutamente desprovidos de qualquer realidade fática”.

Braga, que tem mais de 12 anos de micronacionalismo, falava de “Porto Claro Ocidental”, vulgo PCO. Com sua vasta experiência, sem dúvida já viu muita coisa. Sua afirmação não é apenas uma frase de efeito.

De fato, a invenção deniense-pasárgada é um espécime raro e surpreendente. Desde que o sítio de PCO foi descoberto pela República de Porto Claro no último dia 15 de junho, toda essa história ganhou proporções indiscutivelmente relevantes.

Mas a grandeza que se tornou o “evento PCO” não lhe confere qualquer legimitidade. As verborrágicas teses e histórias contadas no sítio oficial de PCO e nos Editoriais publicados em seu louvor servem muito mais para confundir que explicar. São cortinas de fumaça.

De uma maneira schopenhaueriana, os sofismas pasárgados e denienses vão sendo repetidos ad nauseaum, ao mesmo tempo que um enorme esforço é feito para povoar PCO de novatos conquistados com milionária campanha publicitária, acompanhados de antigos micronacionalistas, em busca de destaque fácil.

Basta olhar com atenção para perceber.

TERRITÓRIO NÃO É VIRTUALISMO?

Pasárgada se orgulha de ter se desvencilhado de um território de refência macro. Pasárgada não está numa ilha ou num pedaço de outro país. Não há um mapa de Pasárgada. Dizem os pasárgados que superaram os vetustos conceitos de micropatriologia lusófona da década passada e que riem das incontáveis brigas por territórios que as demais micronações patrocinaram.

É irônico que, agora, pasárgados se sentem à mesa com o Imperador de Reunião para, na ponta de faca, rasgar o mapa portoclarense em dois e dividí-lo. Não se vê tamanho virtualismo há quase uma década. O jornal Tribuna Popular chamou esse encontro de “Conferência de Ialta“. Errou. comparação melhor seria com o Pacto Ribbentrop Molotov, com Porto Claro fazendo aí o papel de Polônia.

Para onde foi a “seriedade pasárgada”? Agora discutir divisões territoriais, fronteiras, mapas voltou a ser “micronacionalismo de verdade”?

REPÚBLICA OU MONARQUIA?

Na seção de história do sítio de PCO há o reconhecimento da República de Porto Claro como uma legítima micronação, mesmo após a saída do país de seu fundador. E é dito que essa mesma Porto Claro, em decadência, teve seu governo derrubado e substituído por títeres de Reunião. Essa é a tese deniense para “legitimar” PCO.

A tese pasárgada é diferente. Ela vem sendo dita nos repetitivos editoriais do Tribuna Popular, onde se desenterrou a velha fábula de que Pedro Aguiar é o “dono” de Porto Claro e que a República existente é uma usurpadora. Tirando o editor do Tribuna, ninguém mais engole essa idéia há muito tempo. O próprio Aguiar cansou de defender essa tese do “país do eu sozinho” e há 7 anos desistiu de sua versão pessoal de Porto Claro.

Mas, para tal tese pasárgada, PCO vem “resgatar” aquela que seria a verdadeira Porto Claro, dando hosanas para a salvação da “essência portoclarense”, que estava ausente da lusofonia.

Para Pasárgada (ou melhor, para setores de Pasárgada), PCO é um clássico caso de ladrão-que-rouba-ladrão. Para St. Denis, PCO é o fruto de um redentor golpe contra um governo já em frangalhos.

PORTO CLARO ESTÁ VIVA E PASSA BEM

As diferentes histórias contadas não teriam tanta importância se não fosse um detalhe: a República de Porto Claro é uma micronação ativa, com dezenas de cidadãos e um governo democraticamente eleito.

Visitem seu sítio oficial e olhem por si mesmos. Olhem sua lista oficial de mensagens, com dezenas de pessoas. O país continua existindo, como existia quando Pasárgada era apenas um poema e não era também uma micronação. Como existia quando Reunião era Vice-Reino de “O País!”.

Seu presidente é eleito regularmente desde 1998. Seu senado é escolhido regularmente desde 1997.

Sim, Porto Claro tem muitos defeitos. Sim, sua política diplomática tem sido, no melhor dos termos, amadora. Sim, o país não se renova politicamente há anos. Sim, eles divulgaram na lista nacional um jogo do índio sodomita.

Nada disso faz com que Porto Claro deixe de ser uma micronação. Nada disso permite que qualquer um possa brincar de Molotov ou Ribbentrop e rasgar o país em dois.

Nada disso legitima a sequência de atos que acusou, condenou e executou Porto Claro, a soterrando com a ajuda do oportunismo de alguns e da ganância de outros.

A LUSOFONIA MOVIDA PELO MEDO

E eles ainda dizem que estão nos fazendo um favor. Que a lusofonia, decadente e sonolenta, voltou a se agigantar. Jornais surgiram, cidadãos inativos retornaram, países voltaram a ter atividade. Tudo por causa do “evento PCO”.

Verdade. Há muitos antigos micronacionalistas de volta. Mas por raiva e indignação. E por medo. Medo de que a próxima micronação a ser usurpada, deturpada e engolida seja a sua. Que a próxima história a ser apagada seja a que eles dedicaram anos criando.

Não importa se a micronação fracassou ou teve sucesso. Para seus fundadores ou cidadãos, a relação de afeto e admiração é intensa seja em Porto Claro, Reunião, Marajó, Normandia, Sofia ou qualquer outra. A recente movimentação tem um caráter claramente defensivo, portanto.

A lusofonia não tem dono. O tronco reunião-portoclarense não é político, é sócio-cultural. E mesmo neste aspecto, a predominância daquelas duas micronações é bem relativa. Países médio-pequenos foram incontáveis vezes mais inovadores em diplomacia, cultura, tecnologia e legislação.

PARASITISMO MICRONACIONAL

PCO não é um projeto original, em paralelo, inovador. Tampouco vem para preencher alguma lacuna porventura existente na lusofonia. PCO, na realidade, sequer existe por si só. É um parasita. Se aproveita de Reunião, pegando recursos financeiros e novatos.

E se aproveita de Porto Claro: nome. Lista de mensagens. Bandeira. Brasão. Mapa. História. Tudo isso em PCO veio “canibalizado” de outra micronação.

Pode-se até discordar da forma como Porto Claro reagiu ao surgimento de PCO. Mas não se pode deixar de entender a reação, a revolta dos portoclarenses, o fato de acharem que até a neutralidade de nações ditas amigas se configurar uma ofensa.

Não há seriedade possível de ser vista em um projeto que nasce sob a égide da paródia, da gambérria e da mixórdia.

7 Respostas to “PCO: “Much Ado About Nothing””

  1. Lúcio Costa Wright Says:

    Filipe, eu sou seu fã 🙂

  2. Rafael Ithzaak Says:

    Belo artigo, Fifo:)

    Viva a renascida Porto Claro!

  3. Ézio Nunes Says:

    Poxa vida! Sensacional. Fifo tem a capacidade de dizer com toda eloquencia e competência tudo o que muitos de Reunião gostariam de dizer. Enquanto vemos um descomunal esforço em prol da tal “PCO”, paralelamente a isso vemos Fournaise, Le Port, Straussia e Conservatória se afundando em uma inatividade tremenda.

  4. Rodrigo Rocha Says:

    Artigo baseado na simples importação daquela mesma afetação macronacional anti-americana que torna o mundo uma droga. Na minha opinião, quem não acredita que o Reunianismo é o melhor modelo micronacional já inventado, ou quem tem qualquer tipo de ojeriza pelas Monarquias expansionistas, deveria se mudar urgentemente para RUPA. Lá encontrarão o seu paraíso encantado – além de um sistema Monárquico muito mais simples de ser substituído por um experimento gramsciano qualquer.

  5. Rafael Braga Says:

    Parabéns Filipe.

    Uma voz de coerência perante tantos doentes mentais vountários.

  6. Bruno Cava Says:

    Quando a paródia supera em seriedade e robustez a realidade…

    Repúdios e apoios morais não constroem uma micronação, nem a atrapalham; pelo contrário, é marketing e como tal, em última análise, sempre positivo.

    Os textos do Lusophonia são mais contribuições à nova PC.

    NPC ou RPC — a história dirá quem vai perseverar, uma ou outra, ou ambas.

    Nenhuma micronação começou tão avassaladoramente bem promovida, estruturada e apoiada como PCO.

    E nem foi iniciada a Porto Claro Oriental 😀

    “O poeta é um fingidor
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir dor
    a dor que deveras sente”
    (Pessoa)

  7. Lucas de Baqueiro Says:

    Filipe, quando você diz que o próprio Pedro Aguiar desistiu da idéia de sua Porto Claro há sete anos, não é por aí. Ele apenas fechou as portas de sua nação (ou “se portoclarizou”, como gosta de dizer) e a transformou numa one-man-nation, mantendo-a povoada – outra vez – com seus paples.

    Se você observar bem, na Micronations, existem constantes atualizações sobre Porto Claro.


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